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Tautocronia Entrevista: Manuel J. de Souza Neto destrincha a cena underground, a memória musical e os desafios da era digital

Coletivo Rock para todas as tribos

Tautocronia Entrevista: Manuel J. de Souza Neto destrincha a cena underground, a memória musical e os desafios da era digital

Entrevista Exclusiva com Manuel J. de Souza Neto


Nesta edição, mergulhamos fundo na cena underground com 
Manuel J. de Souza Neto. De agitador cultural nos anos 80 a fundador do MUSIM e crítico da inteligência artificial, Manuel destrincha as transformações da música independente. Descubra os desafios da era digital, a importância da memória musical e o que esperar do futuro da arte. Uma entrevista imperdível para músicos, pesquisadores e amantes da música.

Shaki na Ativa

Patrícia Shaki: Como foi sua experiência na cena underground do final dos anos 80?

Manuel: Começou como uma merda! [risos]. Era polícia em bar, repressão da Ordem dos Músicos, shows vazios para bandas incríveis. Mas também havia um lado fascinante: a energia da cena curitibana, as conexões culturais, as festas estranhas com gente esquisita. Eu era precoce, fechava o Batelouco com 15 anos, colocava bandas de amigos nas minhas festas, como os Cervejas (que depois viraram Catalépticos). A gente apanhava, mas aprendia. Percebi que ser underground não significava ser amador. Começamos a nos organizar, criamos fanzines, assessoria de imprensa, investimos em profissionalização. Montei o selo Mais Records, lancei coletâneas, discos de bandas indies, até de mulheres, como as Chaser. Fiz programa de rádio, o Garagem 96, que bombou na audiência. Com o Abnom, meu parceiro na Gazeta do Povo, criamos o Caderno Fã, que alcançava milhares de leitores. A gente queria mostrar que tinha coisa boa acontecendo.

Patrícia Shaki: Você fundou o MUSIM, que se tornou uma rede nacional de pesquisadores. Como isso aconteceu?

Manuel: Eu era o acumulador de discos e fitas demo da família, o “fardo”, como dizem [risos]. Com 21 anos, já dava entrevistas sobre minha “coleção museu”. Percebi que faltava um museu da música paranaense, então comecei a juntar tudo: rock, MPB, clássica, fandango, hip hop. Em 2006, fundamos o MUSIM. A ideia era tão boa que pensamos: por que não ter um em cada estado? Assim surgiu a Rede MUSIM, com mais de 50 coleções pelo Brasil. O museu saiu da minha casa e hoje está em processo de migração para o ABC paulista, a raiz do rock underground nacional. A Fonoteca da Música Paranaense continua ativa, agora sob a presidência do Rodrigo Amaral.

Patrícia Shaki: E essa ideia de “Mestres do Underground”?

Manuel: [risos] Todo mundo me chamou de louco, mas acabaram concordando. A ideia surgiu ao estudar os programas de Cultura Viva e os Mestres da Cultura Popular. Pensei: qual a diferença entre um mestre de fandango e um pesquisador, colecionador, radialista do underground? São os guardiões da memória, os que transmitem a cultura. A Rede MUSIM vai certificar os Mestres do Underground, começando pelos “velhos loucos”. Os critérios? Ter mais de 30 anos de cena, ter vivido a era analógica, ter acervo, pesquisar, escrever, fazer fanzine, rádio…

Patrícia Shaki: Seu artigo, “O Futuro da Música Chegou e Não Pertence aos Criadores”, é um alerta sobre a inteligência artificial. Qual sua análise?

Manuel: Em 2016, a Adobe lançou o Voco, app que copiava vozes. Na mesma época, surgiu o Deepfake do Obama. A realidade começou a ser desconstruída. A IA já existia antes, mas estava restrita aos militares. Hoje, está na mão de todos. Já temos músicas criadas por IA, finalização de obras inacabadas, contratos de gravadoras com empresas de IA… Uma empresa que conheço produz 6.000 músicas por dia com artistas fake! É uma bolha prestes a estourar. A música está virando um game para os jovens, um loop temporal do passado. E o pior: 82% das pessoas não diferenciam música feita por humanos de música feita por máquina. Isso é um rebaixamento estético, um emburrecimento da população.

Patrícia Shaki: O que podemos esperar do futuro da música underground?

Manuel: A música não vai morrer, mas vai se qualificar. Os artistas precisarão ser mais criativos, criar estéticas que a máquina não consiga reproduzir. As cenas precisarão se fortalecer como comunidades, voltar ao analógico, ao vinil, aos fanzines. Haverá os gênios que usarão a IA para inovar, mas também os que se fecharão em “vilas”, como no filme “A Vila”, buscando um detox tecnológico. As transformações são rápidas, a realidade já está mudando. É preciso estar atento e se reinventar.

E com essa reflexão impactante de Manuel J. de Souza Neto, encerramos mais uma edição do Rock na Ativa. Fique ligado no Tautocronia e no portal Rock na Ativa para mais entrevistas, análises e novidades do universo musical. Até a próxima!

Assista à Entrevista Completa

Confira a entrevista completa no vídeo abaixo:

Serviço

📻 Programa: Tautocronia
📡 Transmissão: Rádio Interessante, canal do YouTube do Coletivo Rock na Ativa e Rádio Putzgrila.
📅 Dia e Horário: Toda Sexta FEira, a partir das 22:15h.
🌐 Site: Tautocronia Rock na Ativa
📲 Redes sociais: Procurem por “Tautocronia Rock na Ativa” no YouTube, Facebook e Instagram.

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marcio.profusao
Author: marcio.profusao

 

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